Porto Alegre – Repórter da Rádio Gaúcha foi intimidado por manifestantes contrários à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Agressões também foram registradas em outras regiões do país
Associações que envolvem profissionais de rádio e TVs divulgaram notas de repúdio contra agressões feitas a profissionais do Grupo RBS, da TV Record, Band e SBT de Porto Alegre e também da Rádio Marconi FM 99.9 de Urussanga (SC), que atuavam na cobertura das manifestações de bolsonaristas que protestavam contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial do último domingo (30). A Brigada Militar do Rio Grande do Sul prendeu um dos agressores e trabalha para identificar outros envolvidos. Agressões contra jornalistas também foram registradas em outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Amazonas, entre outros.
Segundo informações que foram veiculadas pelo GZH, o 11º Batalhão de Polícia Militar relatou que a equipe de força tática interferiu quando viu um manifestante dar socos no cinegrafista e em um motorista da equipe, funcionários do Grupo Bandeirantes, que gravavam imagens com um repórter, além de quebrar os equipamentos de gravação. Todos foram conduzidos para o Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre para a realização de exames que comprovem as eventuais lesões. Apesar das agressões, os funcionários da Band passam bem.
Na terça-feira (1º), houve intimidação a um repórter da Rádio Gaúcha FM 93.7 de Porto Alegre na BR-116. Na RS-040, no mesmo dia, houve intimidação a um repórter da RBS TV. No mesmo protesto, um grupo de quatro manifestantes com camisas amarelas da Seleção Brasileira cercou a equipe do SBT formada por um repórter e pelo cinegrafista que o acompanhava.
No caso da TV Record, uma repórter, um cinegrafista e um auxiliar chegaram ao local e foram impedidos de trabalhar. Dois homens os intimidaram e expulsaram do local. A Band divulgou uma nota sobre o ocorrido: "A equipe da BandTV foi agredida na tarde desta quarta-feira quando registrava manifestação no centro da Capital.
O agressor foi preso pela Brigada Militar. Todo apoio está sendo prestado pelo Grupo BandRS aos profissionais. É inaceitável qualquer tipo de violência assim bem como o cerceamento ao exercício do trabalho jornalístico. O devido boletim de ocorrência foi registrado na 2° Delegacia de Polícia. As medidas legais cabíveis foram acionadas".
O SBT divulgou nota a respeito do caso: "O Jornalismo do SBT repudia e condena os atos de hostilidade. As agressões a jornalistas são atentados contra a liberdade de imprensa e não podem ser toleradas. José Occhiuso – Diretor Nacional de Jornalismo do SBT".
Santa Catarina
Na manhã desta quarta-feira, dia 2, o repórter Marco Búrigo, da Rádio Marconi de Urussanga (SC) foi hostilizado e intimidado nas manifestações por apoiadores de Bolsonaro. Marco estava conversando com uma mulher, que inclusive é eleitora do atual presidente, e que informou que não concordava com as manifestações, afirmando ser a favor da democracia e dos resultados das urnas. Neste momento, alguns manifestantes questionaram o que o repórter era, se era a favor ou contra a manifestação. “Eu sou a favor do jornalismo”, foi a reposta de Marco.
Os manifestantes envolvidos alegaram que o repórter estava divulgando as informações para a polícia agir nos atos. Marco afirmou que estava a favor do movimento desde domingo à noite, informando sobre o que estava acontecendo. Os manifestantes afirmaram que se o repórter estivesse “prejudicando” o ato, ele deveria sair do local.
Repercussão
Associações que envolvem rádios, TVs e impressos divulgaram notas repudiando os ataques feitos contra jornalistas que atuavam na cobertura das manifestações. Confira abaixo:
NOTA DE REPÚDIO
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudiam os atos de violência, ameaças e hostilidades contra os profissionais da imprensa por parte de manifestantes que bloquearam diversas rodovias em vários estados do país, nesta quarta-feira (2).
Em Porto Alegre (RS), equipes de reportagem da Rádio Gaúcha, SBT, Band e Record foram intimidadas e até mesmo agredidas fisicamente durante cobertura dos protestos que questionavam o resultado do processo eleitoral. Alguns equipamentos foram quebrados pelos manifestantes.
É inadmissível todo e qualquer ataque aos profissionais e meios de comunicação que cumprem a missão de informar a sociedade sobre assuntos de interesse público, principalmente, quando a violência tem como autores grupos com viés antidemocrático.
Atos criminosos como este são próprios de grupos extremistas, incapazes de conviver em ambiente democrático, e não pautarão os veículos de comunicação brasileiros.
A ABERT, a ANJ e a ANER pedem às autoridades uma rigorosa apuração dos fatos, com a punição dos responsáveis, para que agressões como estas não voltem a se repetir.
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão
Associação Nacional de Editores de Revistas
Associação Nacional de Jornais
A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) também repudiaram o ocorrido:
"A Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (AGERT) em conjunto com o Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Rio Grande do Sul (SindiRádio) vêm a público manifestar seu repúdio aos atos de hostilidade e agressões sofridos pelos profissionais dos grupos SBT e Band, durante o exercício legal de suas atividades profissionais ao cobrirem as manifestações no centro de Porto Alegre, na tarde desta quarta-feira (2).
De outra parte, manifestamos nossa solidariedade aos profissionais que diligentemente cumprem sua missão de bem informar.
Meios de comunicação livres serão sempre um importante pilar do Estado Democrático de Direito.
Roberto Cervo Melão
Presidente AGERT e Sindirádio
A ACAERT também emitiu nota de repúdio contra os ataques
A Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão – ACAERT considera inaceitável que profissionais de comunicação sejam vítimas de atos de violência, ameaça e tentativa de impedimento do exercício da sua profissão.
Nesta semana, durante as manifestações que bloquearam diversos pontos das estradas de Santa Catarina, equipes de emissoras de rádio e televisão foram hostilizadas, ameaçadas e impedidas de levar os fatos à sociedade catarinense.
Atitudes como essa acabam depondo contra o próprio movimento, impedindo que as suas reivindicações cheguem ao conhecimento de toda a população, de maneira democrática, com apuração séria e imparcial.
A ACAERT condena toda manifestação que não seja pacífica e ressalta que qualquer tipo de intimidação, violência e tentativa de constranger os meios de comunicação em sua missão de informar à população configura atentado contra a liberdade de imprensa e o direito fundamental do acesso à informação, garantias previstas na Constituição Brasileira.
O rádio e a TV, veículos essenciais da mídia regional, sempre presentes no dia a dia defendendo as causas para o bem comum da sociedade, não podem ser cerceados do direito de fazer o seu trabalho, o que também caracteriza um crime contra a democracia.
Que as autoridades apurem com rigor todos os fatos ocorridos e solucionem de maneira firme, porém pacífica, este impasse para o bem de toda a população. Nossa solidariedade a todos os profissionais e emissoras envolvidos nestes tristes episódios.
ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE EMISSORAS DE RÁDIO E TELEVISÃO – ACAERT
A Associação Riograndense de Imprensa (ARI) também repudiou as agressões:
ARI CONDENA AGRESSÕES A JORNALISTAS
Neste 2 de novembro, Dia Internacional pelo Fim da Impunidade de Crimes contra Jornalistas - data escolhida pela ONU para marcar o assassinato de dois jornalistas franceses em Bali, em 2013 - a Associação Riograndense de Imprensa ARI vem a público para se solidarizar com os profissionais e veículos de comunicação covardemente atacados por integrantes de manifestação antidemocrática em Porto Alegre. Agressões, ameaças, xingamentos e outros tipos de desrespeito tem sido o cotidiano de quem busca a informação e atua com o jornalismo responsável.
Frequentes em várias partes do país durante o período eleitoral, as agressões e ameaças a jornalistas vêm se intensificando desde a madrugada do dia 31, com a divulgação do resultado do pleito presidencial. Jornalistas estão sendo maltratados, destratados e agredidos, impedidos de fazer gravações e entrevistas no Estado, em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Amazonas e em muitas outras praças. A Federação Nacional dos Jornalistas, a Associação Brasileira das Empresas de Rádio e Televisão, a Associação Brasileira de Imprensa, e sindicatos de diversos Estados vêm protestando contra essa situação.
Nesse contexto, também manifestamos integral solidariedade aos profissionais e empresas atacados e proclamamos veemente repúdio aos atos de violência. Comprometida com a democracia e com a defesa da liberdade de expressão, a ARI apela às autoridades para que garantam o livre exercício da atividade jornalística e punam os agressores na forma da lei.
José Maria Rodrigues Nunes
Presidente da ARI
Batista Filho
Presidente do Conselho Deliberativo"
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindjors) também repudiou os ataques.
O governador eleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), criticou as agressões em postagem em rede social.
Ataques à imprensa são atentados contra a democracia. Os episódios de hj em P.Alegre contra as equipes da @bandrs e do @sbtrs, cometidos por quem se recusa a aceitar o resultado das urnas, são inaceitáveis e devem ser repudiados por todos. Minha solidariedade aos profissionais.